segunda-feira, 16 de abril de 2007

A Menina e a Flauta

Havia uma garota que morava em um pequeno vilarejo no interior dos Alpes. Uma menina sonhadora, que imaginava ter um futuro maravilhoso como flautista...
Seu sonho começou quando o avô dela, que era carpinteiro, esculpiu em madeira de lei uma pequena flauta para ela, em seu sexto aniversário.
"Obrigada, vovô!!!!!" Respondeu a garotinha com lágrimas nos olhos, porque nunca tinha visto coisa tão bonita na vida, nem os lagos de água límpida, nem as neves que tocavam os céus, nem os dentes-de-leão a voar pelos ares ao sopro da mínima brisa. "Nunca mais me separarei dessa flauta!!"
Com o tempo, a menininha foi aprendendo a tocar sua flauta. No começo, ela se chateava, pois ela se apresentava para qualquer desconhecido que passava pelas estradas da região, porém todos riam de sua música desafinada.
Mas, passaram-se dias... meses... até que somaram dois anos e ela já completava oito anos...
Ela tocava feliz pelas estradas da região quando um jovem apareceu por detrás de um arbusto, como se estivesse interessado nela, no que ela fazia. "Oras, então é apenas uma pequen garotinha?!" Disse o rapaz, olhando desconcertado para a pequena figura à sua frente.
Sentindo-se ofendida, a garotinha, fez que sim, mas com o rosto fechado, dizendo: "Eu sei que não toco bem, mas eu toco com alegria, é isso que importa! Foi o que meu vovô me disse!"
De sobresalto, o garoto, agora, estava já dando um passo a frente e disse: "Então seu vovô é muito esperto!"
"Sim!! Foi ele quem fez essa flauta pra mim!!"
"Então seu avô faz flautas?"
"Não... ele é carpinteiro!" A menina muda de feição e com um tom interessado, pergunta: "Por quê? Você também quer uma flauta?"
"Eu não vou mentir pra você, que é uma menina tão bonitinha..." Ela sorriu e corou. "Estou interessado nessa flauta em especial..."
A menina que já se sentia à vontade conversando com o jovem, abraçou a flauta e deu dois passos para trás. "Não!! Essa é minha!! Se quiser pede pro vovô!!"
O rapaz, impaciente, usa um recurso que ele esperava não ter de usar: "Eu posso te dar o que você quiser... Eu te dou até outra flauta..."
A menina, então, fica pensativa por um tempo.
"Façamos o seguinte." O rapaz disse, então. "Eu passarei aqui amanhã de novo, com uma flauta novinha!"
Os olhos da menina brilharam! Tanto quanto da vez em que ganhara a flauta do avô! "Tá bom!!!! Até amanhã, então!!"
Quando ela chegu em casa, mais tarde, estava tão alegre que seus pais perguntaram qual o motivo de tamanha felicidade. "Amanhã eu vou trocar minha flauta por uma mais nova!!"
O pai deu um pulo na cadeira de onde tomava seu caldo. A mãe deixou cair um prato enquanto o secava perto à pia.
Ambos olharam fixo para ela, que, como que por encanto, se sentiu diminuída, bem pequenina. E sua voz quase não saiu quando perguntou: "O que foi? Por que vocês estão bravos?"
Os pais explicaram a ela que esta flauta não podia ser trocada por uma outra flauta, nem por uma orquestra inteira, nem por todas as orquestras do mundo, muito menos o dinheiro que pagaria todas as orquestras.
Ela não entendia o porquê disso.
"É porque é herança!" Disse o pai. "O que é da família continua na família!" Disse a mãe, que completou: "Ainda mais quando é feito por um membro dela!"
"E dado de presente!!" Completou o pai.
"Por isso você não pode vender ou trocar esta flauta! Muito menos deixar o seu avô saber que você quis isso!!"
Ela ficou cabisbaixa. Entendeu o que se passava. Percebeu o erro que ia cometer. Decidiu, então, falar com o avô.
"Vovô? Pode fazer outra flauta igual a essa?"
"Posso, sim, minha querida. Mas por quê?" "É que um moço quis a minha flauta, mas eu não posso dar ela pra ele, pois foi o vovô quem fez... e é herança... e herança não pode ser vendida...."
Enquanto ela falava, o avô percebeu o que ela pensou em fazer, pois nessa idade, as mentiras, grandes ou pequenas, ainda estão bem à mostra nas pessoas de coração puro, como era o dela, por isso ele havia feito a flauta, pois apenas um coração puro consegue extrair um som bonito de tal instrumento. O avô sabia disso. Por isso, respondeu:
"Eu faço outra flauta, sim... mas é para você! Esta flauta velha, já está bem usada, lascada por ter sido derrubada... você precisa de uma nova!"
"Mas a nova era pro moço da estrada!"
O velho sorriu. A ingenuidade dela era grande. "Dê a sua para o moço, ele não vai conseguir tocar tão bem quanto você a tocava..."