terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Estória de um Reencontro

Seus poucos pertences estavam acomodados em duas pequenas bagagens: na mochila, encontra-se uma muda de roupa, objetos pessoais de higiene - escova de dente, lâmina de barbear; uma medalha, conseguida por um alto custo. Na caixa, muitas cartas e fotos, uma, em especial, que estava sendo removida para servir de companhia ao rapaz, que a olhava, com os olhos cheios de esperança e ternura, e relembrou....

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O carteiro tocou a campainha, como se acostumou a fazer quinzenalmente naquela pequena casa de portões baixos brancos e sempre abertos à vizinhança tranqüila; gostava de entregar as notícias pessoalmente a uma jovem tão sorridente, ele sabia que o sorriso era devido às notícias trazidas por ele. Nesse dia não foi diferente.
Mal o carteiro pôs-se a continuar seu trabalho, a carta já estava sendo aberta e lida. O sorriso da jovem já não cabia mais em seus lábios. Seu peito ofegante só foi contido antes de explodir pela carta apertada contra ele, como se esta fosse o próprio autor, em pessoa, em suas mãos.

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Voltando de suas memórias, pôs a foto no bolso de sua camisa, perto do coração, verdadeira morada da jovem na foto, tirada a seu lado, nas férias depois do colégio. Tantos planos... todos interrompidos pela chamada a Pátria. Agora é tempo para o recomeço.
Pôs a mochila nas costas, pegou a caixa com as duas mãos, e juntou-se a outros homens, que também iriam, cada um com sua história, retomar suas vidas.

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Ao entrar de volta, correu diretamente para o quarto, em direção à caixa de sapato debaixo da cama. Desamarrou o cordão de maneira quase solene e a abriu, colocou a carta dentro e a fechou da mesma maneira. Imediatamente correu ao banho, e por lá demorou um bom tempo, há tempos não se sentia tão relaxada, finalmente a angústia ia ter um fim.
Saiu do banho e procurou seu melhor vestido. Achou um de chita verde-claro, já conhecido dele, pois foi o vestido usado naquele baile, naquela cidade, naquelas férias...

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O ônibus chegou, motivando um ar de alegria entre os homens naquela tarde. Todos subiram e ocuparam seus assentos. Ele olhou ao redor sorridente: pareciam crianças em dia de excursão, dizendo o que iriam fazer ao chegar aos seus destinos; não sabia e talvez nem quisesse saber o que os outros fariam, mas ele... Tirou a foto do bolso mais uma vez, no momento em que o ônibus partira.

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Olhou o relógio na parede. Assustada, percebeu que perdera tempo demais em suas memórias. Recobrou-se, corada, e terminou de se arrumar, perfumou-se e saiu. Apressada, chegou a tempo de pegar o ônibus no ponto a três quadras de sua casa. Quando entrou, procurou um assento vago: havia um do lado de uma senhora de idade já avançada, com a cabeça encostada no vidro e olhos fechados... Sentou-se. Seu nervosismo, agora, falava mais alto: seus dedos apertavam com força a alça de sua bolsa de cor marrom-clara, aberta constantemente para a retirada de um papel que dizia o número do portão e a hora de chegada. A todo o momento a jovem se inclinava para o lado a fim de enxergar o caminho a ser percorrido pelo ônibus, imaginando o que seu amor iria pensar se esta carta não tivesse chegado a tempo e ela não fosse ao seu encontro...
Logo desistiu de pensar nisso.

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Passado pouco mais de uma hora, o ônibus parou e todos desceram, o rapaz olhou para aquela fortaleza voadora a sua frente. A carona para casa. Ele e seus colegas se entreolharam com um franco sorriso no rosto, enfileiraram-se e puseram a marchar em direção ao avião.

Cada um tomou, mais uma vez, seu lugar, como descrito nas instruções recebidas há uma semana. Uma semana que passou rapidamente, para a alegria daquele rapaz que, por um momento, preocupou-se: será que sua carta chegara a tempo? Logo percebeu que não havia motivo de preocupação, pois ele tinha o número do telefone de sua amada.

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À distância já era possível ver o aeroporto, o que fez seu coração bater mais forte. Agora eram mais freqüentes as tentativas de enxergar o caminho. A senhora a seu lado, como se tivesse um despertador, acordou, pediu licença para a jovem, e ao motorista para que parasse no próximo ponto, já perto, e desceu. A jovem foi para o lado da janela, ia demorar um tempo ainda, pois lá é o ponto final.

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O avião decolou, e depois de umas duas horas de conversa, todos foram dormir exaustos. A emoção era demais até para eles, que enfrentara tanto nesse ano que passou.

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Os minutos mais longos de sua vida se passaram, o ônibus foi ficando cada vez mais vazio. Ao chegar ao aeroporto, apenas ela e um homem de barba e um paletó cinza chumbo carregando uma bolsa, provavelmente contendo sua roupa, desceram, dando lugar aos novos passageiros, recém-chegados à cidade.

A jovem parou por um instante e encarou a porta de vidro na entrada do aeroporto. A última vez que o viu foi a pouco mais de um ano, quando deu seu último beijo. Os dois jovens haviam acabado de descobrir o amor entre eles e já tiveram que se distanciar tão bruscamente. Respirou fundo.

Entrou.

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O rapaz abriu os olhos e viu que muitos companheiros já estavam acordados. Tomaram o último café da manhã dado pelo exército e começaram a descrever as pessoas que estariam no aeroporto esperando por eles: a esposa, os pais, o irmão mais velho, a namorada...

De repente uma voz no alto-falante informa que o aeroporto está próximo e já tem permissão para o pouso. Um grande e coletivo suspiro é expelido pelos jovens, tornando-o audível.

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A moça de vestido verde aperta o passo no momento em que entra no saguão do aeroporto, seguindo diretamente ao balcão de informações.

Logo descobre o desejado: o avião pousará no portão 21, lado oeste, pois não é um vôo de linha. Além disso, ela descobre também que ele já está para pousar.

A jovem, então, sai correndo em direção ao seu encontro. Ela não consegue mais pensar em nada.

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O frio na barriga toma conta dele. Uma mistura: parte a descida do avião, parte a ansiedade de revê-la depois de tanto tempo.

O avião termina as manobras com ele já de pé e com a bagagem em mãos. Quando o compartimento se abre, é o primeiro a descer, andando mais rápido que o de costume, quase derrubando sua caixa de pertences.

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Ao chegar à plataforma, a jovem vai direto à janela, ali estavam mais algumas pessoas, mas ela não se dá ao trabalho de examiná-las, quem ela procura está lá fora.

Pouco depois ela vê um avião militar pousando, fazendo uma manobra para inverter seu sentido e parar. Seu coração pára por um instante ao ver o compartimento de carga ser aberto, voltando a bater quando vê seu amado ser o primeiro a descer e sair andando acelerado em direção ao portão de desembarque.

Alguns segundos depois ela já se encontra à sua espera. É verdade: ele chegou.

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O porão se abre. O rapaz tem como primeira visão do aeroporto uma imagem conhecida: uma linda jovem parada em sua frente em seu vestido de chita verde-claro, ofegante, com um sorriso largo, deixando os dentes à mostra e boca aberta como se querendo dizer algo, mas soltando apenas soluços que misturam riso e choro, este denunciado pelas lágrimas que escorriam por seus olhos claros.

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A jovem não se contém, suas emoções estão a traindo. Ela não sabe se ri ou chora. Acaba por fazer os dois no momento em que o portão é aberto, entrelaçando suas mãos na altura do peito. Ela, então, vê um rapaz conhecido com um sorriso amável em direção a ela, que tenta dizer algo, mas não consegue, ela apenas soluça.

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Ele solta a mala. Ela solta as mãos. Os dois avançam um em direção ao outro. Depois de um ano juntos outra vez, e agora é para o tempo que o amor permitir. Eles desejam que isso dure o tempo que eles viverem.

- Fiquei com medo que a carta não chegasse...

- O que importa é que você chegou...

O casal se beija. Como se estivessem se beijando pela primeira vez, naquelas férias depois do colégio...

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